quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Um novo ano começa...



...e começa quando nós acreditamos que uma longa caminhada só se incia com o primeiro passo e dar o primeiro passo é sempre muito dificil. Iniciar o ano é dar sempre o primeiro passo. Caminhe em busca de um novo momento e deixe suas pegadas para os que vierem atrás... para refletir sobre o futuro.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Para podermos crer na vida

























Cada Lado

Cada lado pode ser uma volta única daquilo que jamais iremos ver
Cada lado pode ser um único ponto daquilo que queremos conservar
Cada lado pode ser mais uma parte de tudo o que desejávamos para um dia ser conquistado.
Cada lado pode ser uma aresta a ser aparada pelo tempo
Cada lado pode ser uma dezena de pontos que construirão um dia, uma meta
Cada lado pode ser um único ponto de vista sobre um todo
Cada lado pode se um novo começo para uma reconstrução
Cada lado pode ser uma parte final de um projeto perfeito
Cada lado pode ser uma metáfora matemática que define a eternidade
Cada lado pode ser uma mera posição sob o monte
Cada lado pode ser a morte ou a vida
Cada lado pode ser o segundo ou a eternidade
Cada lado pode ser a escolha ou a imposição
Cada lado pode ser absolutamente Tudoou algo insignificante.


Com isso espero que o Igor possa ficar em paz esteja onde estiver.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Somos o que podemos ver?
















Reflexos

Olhei pra mim mesmo e vi tudo o que não queria
Vi aquilo que é e o que nego
O que desejo e jamais serei por mim ou por ti

Olho para os lados e o que vejo e o eco
Eco de ontem, hoje e amanhã
Ecos de todos os dias que nunca param e sempre se repetem
Vejo o nada em forma de tudo o que há
E ao mesmo tempo sou como o vazio que há em mim
Um e outro
Nada e tudo

Vi em ti o que não queria ver em mim
E me questiono por quanto tempo nos enganaremos
Porque somos apenas ilusões
Ilusões que teimam em ser reais, mais ilusões
Reflexos pálidos do que nossas máscaras teimam em mostrar

Reflexos
Nada de mais se não olharmos para os lados
Se não quisermos ser narcisos
Se não tivermos esperanças vãs de num futuro próximo
Sermos os deuses que em algum momento pensamos ser

Eu, você , eles, todos nós somos pálidas sombras da realidade
Nada do que queremos ou sonhamos ser
Apenas grandes mentiras
Apenas reflexos de nada
Do vazio de nós mesmos

O que fazer com aquilo que se imagina?
Onde estará o concreto das verdades que acreditamos?
Quais serão os itens de composição dessa imagem
Que é apenas eco de uma verdade que já existiu?
Tudo parece tão contraditório e confuso
Todos esses reflexos que vemos como miragens
Que nos enganam e escravizam

Não sei onde está o meu verdadeiro eu...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008


Foto de Spencer Tunic










Três momentos


1º momento


Não é da morte que se faz o dia
Não é da fé o desamor ardente
Somos sabedores da humanidade pagã
Somos deuses, e não nos damos conta disso
Seres inimagináveis a percorrer universos
Calma... eis nossa doutrina
Procuramos o vácuo no inócuo
Eis nossa sina maldita
Pois maldita é a lama que surge e repudia a alma
Corpo da qual é feita
Grandes são os desejos
Éis louca e maldita ... a glória
Danças nos sinos da concórdia tua e flutua em tua alma a inconciência inútil...

2º momento

Fracasso dos fracassos
São os ideais de todos
Luta após luta, dia após dia
Maldita é a carne impura a dominar-me
Esses são os deuses , e é a eles que oramos
Esta é a glória maior.
Afunda-te na tua lama e lambe o resto ferido de teu espírito
Afaga teus sorrisos e acaricia teu corpo
Nojo de sedução carnal avança passo a passo
Para a salvação de tua alma branda

3ºmomento

Esta noite é derradeira
Nela criei meu inferno
Meu caos
E na catarse de meus sentidos
Grito teu nome impuro em oração elevada aqueles que crêem
E a morte a espreitar-me
Felina e furtiva, festeja a iminência do caos
Murmúrios e lamentações que invadem todos os sentidos e causam o desespero , a loucura, a doença
Alma negra que se rasga perdida
O anjo de asas negras
Na noite fria a lamber as próprias feridas em busca de cura
Este é o sentimento derradeiro,
O inferno , o caos., o fim dos momentos...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O mágico e o Eu



O Encantamento

Cara de palhaço, boca de palhaço, pinta de palhaço... Daí quando o olho vai pro lado e acabamos por ver uns tantos pares de olhos esbugalhados fixos em uma mesma direção. Vemos isso num ano, depois em outro, e em tantas outras vezes que debaixo do fantasioso espaço da lona, o mágico e o eu se misturavam. Não eram só os palhaços ou malabaristas, eram os colegas de classe, os amigos da rua, ou os recém conquistados, que vinham de outras regiões. Mas naquele momento, não importava muito. Era ele na figura do outro que estava no picadeiro. Então o show era possível, realizável. Nas ruas cada carinha pintada traz em si uma alegria interna, que foge ao controle, quando começa a cantoria : “ Jogue o lixo no lixo, não jogue o lixo no chão...” então o poético, o mágico, transforma-se no prático, no educacional.
O FAZER POPULAR é parte da própria infância. É nela que se aprende como ser adulto, e é essa educação que se reflete durante toda a vida. Ela deve ser mágica como nos contos de fada. Cada lição vem com a vivência e com o entendimento desta. No mundo sem o circo o aprendizado está centrado no outro, que é esse adulto, que há muito esqueceu-se da rua e de seus prazeres.
A figura do palhaço, grande amigo e professor, lembra o inocente que aprende testando e que pergunta sem medo de errar. O Louco do tarô, que inicia sua jornada partindo do nada. Se comunicar é trocar informações, as crianças são os grandes comunicadores e o circo, o grande desaguador dessa comunicação. Por que? Não existe espaço mais democrático e diverso que a lona circense. Um lugar que abriga cada sonho, cada forma de relação, cada jeito de dizer o que se quer. Não há barreiras quando se está no picadeiro. Ali a bailarina sempre será bonita e o palhaço sempre engraçado. Um jeito bom de driblar os altos e baixos da vida. No circo o menino da rua, o literalmente “filho da puta”, é o astro na perna de pau ou do malabarismo. Ele não tem que se esconder, pelo contrário ele vai se mostrar e será aplaudido. No picadeiro não interessa quem ele é socialmente e sim o que ele faz.

O Miolo da teia da Aranha

O circo é a foz da comunicação infantil. Quando se pensa nesse modelo, que vem do circo, acaba-se visualizando redes de comunicação. Ela existe em função dos pequenos (crianças), que através da brincadeira, do jogo, se relacionam de uma forma tão eficiente que suas informações ultrapassam os anos, as fronteiras ou mesmo o velho muro que separa os vizinhos, e de repente, passam a fazer parte do imaginário coletivo. Se Strauss estudou a comunicação das mulheres, deveria ter olhado a comunicação das crianças. A infância consegue uma eficácia, tão própria e tão precisa, que além de socializar o conhecimento ela atravessa o tempo; e com essas crianças já adultas, é possível lembrar de velhas histórias da infância, que passam de geração a geração, povoando o imaginário e se espalhando por outras regiões. Quantas coisas aprendemos na infância, nas trocas íntimas, nos segredos de cuspe e dedinho. Quantas verdades negadas em casa ou na escola (espaços que deviam educar e não adestrar), aprende-se na convivência, na experimentação das ruas.
As crianças são articuladores natos. Se elas tivessem a oportunidade de apropriar-se das novas tecnologias de comunicação, elas apenas gerenciariam toda a gama de informação que já possuem. Basta observar o dia a dia. São elas que dominam a linguagem da internet. O novo, passa a ser o grande impulsionador dessa busca incansável de informação. Cercada por um mundo elétrico e eletrônico, sua mente pulsa conforme o ritmo alucinante dos BIT´S. Mas o contato humano é fundamental e não pode ser deixado de lado. As experiências humanas não poderão ser passadas apenas pelas teclas do computador. A comunicação é exigente, ela pede contato, pois se alimenta do que vê, ouve , fala e sente.
A formação de uma rede infantil de comunicação, parte do princípio simples, que comunicar é uma grande brincadeira. A comunicação deve ser prazerosa tanto a quem recebe, quanto a quem emite. A criança, não pode ser deixada de fora desse processo de mundialização, porque elas participam do mundo adulto. Estão presentes. Ela deve perceber que às vezes suas dúvidas são as mesmas que uma criança japonesa, ou mesmo que a discriminação que uma criança negra sofre nos EUA não difere muito da que recebe a criança africana ou brasileira.
A ótica infantil é especial, portanto deve ser respeitada e fomentada. Olhar e ouvir como uma criança é estar aberto a esse processo de criação do cidadão do mundo. Alimentar hoje uma rede infantil de comunicação, é viabilizar para o futuro um processo comunicacional democrático, que terá bases para se auto-sustentar. A diversidade é fundamental para o engrandecimento dos povos. A vivência é dinâmica e a cultura não pode ser diferente. Um novo modelo de educação, passa essencialmente por esta comunicação. O poder perceber e entender e assim comunicar.

Mais sonhado que o real

Seria confuso pensar o circo, não como projeto concreto, mas como processo interno de transformação? Falo isso pois trabalhei em uma escola de circo e pude ver de perto sua eficiência. Talvez se o indivíduo teima em entender a comunicação e a educação como algo cartesiano e funcionalista jamais entenderá a magia circense. O circo na realidade estaria interno a cada um. Visualize o circo; primeiramente seu espaço físico. Agora visualize o espetáculo. Toda a sua diversidade de linguagens, todos os signos e significados presentes em cada movimento, nas cores, nos sons... agora olhe a platéia, o que se vê não é uma diversidade de pessoas nas arquibancadas ou nas cadeiras? É ou não possível ver o circo dentro de cada um? Chame memória genética ou seja lá o que for, mais cada um já nasce com um saber próprio, e apreende muito mais com o contado social. Isso gera a diversidade que nos faz tão belos.
O circo interno é formado por esta pessoa que se vê no espelho e todas as outras que o cercam. Quantos espetáculos não podem ser formados a partir daí. Modificar o interior é subir o mastro principal a partir do sentir. Quando bebês, os homens tocam e sentem, assim conhecem o mundo. O picadeiro é formado pelo ato de comunicar, e a formação desse circo interno depende das piruetas que se está disposto a dar nas suas certezas e nos pré-conceitos.
Comunicar e educar, são palavras diferentes que levam para um mesmo caminho. Não se educa sem comunicar, não há educação sem troca de experiências, sem composição de realidades, sem sonhos. Sair do cinzento mundo da sala de aula, não vai resolver os dramas internos. A responsabilidade da criação dos adultos de amanhã, recai hoje, toda sobre esta instituição linear e atrasada que a escola se tornou. Não serve apenas sair para um encontro com o circo. Isso é pouco, talvez quase nada. Deve-se estimular a criação do circo interno, que no coletivo, modificará, as instituições e os processos. No entanto, o nosso foco tem sido até o momento as crianças e jovens. E os adultos? O circo interno seria uma utopia para eles ou é possível modificar o pensamento cristalizado das pessoas que não acreditam em mudanças. Fomentar essa crença impede que as elas comecem. È no ensino fundamental que toda essa base pode ser constituída, mas hoje precisa-se do adulto consciente e disposto para preparar os homens e mulheres de amanhã.

HOMO LUDENS

Desde o início o homem brinca. Brinca para aprender, brinca para se sentir feliz, brinca para se relacionar. Toda e qualquer atividade humana pode ser um jogo. O jogo se baseia na manipulação de certas imagens, numa certa “ imaginação” (huizinga,07). O brincar é acima de tudo o experimentar. Como suprimir o imaginário com tarefinhas mimeografadas aonde a criança se vê limitada a um desenho no papel e que para ser considerado bonito, deve seguir regras e padrões que ela não criou ou mesmo foi consultada se gostava ou não. Onde fica a participação, o gostoso do processo de aprender, o testar? O Homem além de ser sábio é lúdico.
Mas as formalidades dos processos educacionais devem ser mantidas. Então aonde cabe a Anarquia? Segundo Althusser1, a escola é uma das formas de controle do governo. Um controle mantido através da educação precária, aonde se finge que ensina e o aluno que aprende. A escola diferenciada, humanista, não teria espaço dentro de um sistema capitalista de produção, que não cria homens e sim engrenagens para manter a máquina, pois esta criaria livres pensadores. Como destaca Gutierrez2 o princípio de Descartes “ Penso logo existo” , que cederia a vez a “ Existo, logo Penso”.
Hoje a escola já perde espaço para os meios de comunicação como a televisão, que educa muito mais que ela. O aparelho ideológico, como assim é chamada a escola por Althusser, então muda de foco; mas continua presa as mesmas formalidades e os professores continuam sendo senhores feudais em suas salas de aula.
Path Adamns, médico, levou para o hospital a terapia do riso. Nada novo se analisarmos o riso como forma de catarse social. Mas, o riso liberta! Segundo Batkhtin3 o riso não impõe nenhuma interdição, nenhuma restrição. O riso passa a ser a grande descarga da população que leva toda a coisa mal cheirosa, porque nunca poderá ser usado para oprimir. O lúdico levará fatalmente ao riso, então não estará aprendendo a criança que ri daquilo que cria ou participa? As pessoas riem de si, dos acertos e erros, porque brincar é projetar a realidade sob outro ângulo.
O Riso impõe outro diálogo social. O deboche arrebenta com o formalismo do conviver, com as hierarquias, com os discursos formatados. Através do riso falam-se as verdades que travam a garganta. A charge critica ferinamente os políticos, enquanto o palhaço encarna o malandro que pode até se dar bem, mas não será pra sempre. A verdadeira cortina popular abre-se a convivência dos iguais e a beleza do cotidiano. Talvez uma grande anarquia a olhos despreparados, assim como a partitura o é para quem não estuda música. No entanto quando bem regida, a sociedade pode apresentar belíssimos discursos como uma bela sinfonia .
O circo é caótico. Mas, existe ordem no caos. No entanto a variedade do picadeiro é harmônica. A anarquia não implica na ausência de disciplina e sim na quebra de hierarquias despóticas e não assumidas. O mundo dos sonhos sob a lona é o mundo das diversas possibilidades de se comunicar algo da forma que lhe convier. O Sonho também é lúdico, porque possibilita o mágico e quebra fronteiras. O Sonho é particular e ao mesmo tempo coletivo, porque a mágica do circo está na igualdade de oportunidades dadas a todos aqueles que se abrigam sob sua cobertura.

Comunicar pela vara de condão

Chegamos então ao objetivo do circo. Comunicar por todos os sentidos. A experiência e o contato humano são os maiores pontos de formação de mensagens. Não é só a boca que fala. O sentido da comunicação está em emitir a mensagem e o sentimento de comunicar em entendê-la. No circo esse processo é lento, no entanto mágico, porque integra as pessoas pelas suas múltiplas inteligências. Em cada ponta da lona podemos encontrar uma habilidade a ser desenvolvida, e lógica, alguém que se encaixe e que reproduza esse conhecimento está apto a promover mudanças.
A grande vara de condão, que transforma o mágico, pode estar nas mãos de um professor que não se acomoda, de um aluno que se inquieta, ou das pessoas que repousam em seus sofás vendo a vida passar por elas e acreditando que nada tem a ver com isso. Um dia quando a paternidade ou a maternidade bater-lhes a porta, cada qual terá de entender as mudanças do mundo, e educar não é uma tarefa fácil. Educar verdadeiramente é mais difícil ainda. A mudança exige paciência.
A lógica do Circo permite que crianças e jovens sejam os gestores do espetáculo. Talvez por isso ele pareça tão mágico, porque dá vez a fala de cada um. Eles podem dirigir-lo para aonde eles querem. Porque ser diferente no seu dia a dia, seria tão mais fácil se o adulto não temesse o embate com a criança. Sempre que saímos com o circo para mais uma oficina, a palavra que mais ouvimos ou falamos é que tudo faz parte do PROCESSO. Mas o que sabemos, e que ele pode até ser iniciado através das oficinas, palestras e ações comunitárias, mas é sua continuidade, se dará pela manutenção do circo interno. Esse sim pode provocar mudanças que perpetuaram a magia.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Por um novo tempo...



Foto de Sebastião salgado e Jo Berger


Duplo sentido

Busco em outras estradas
Algo ou alguém pressentido
Uma vaga, um vago, um nada
Ou mesmo um tudo que possa ser acrescido

Busco num olhar ou nas piadas
De bares, bancos ou idílios
Um espelho, um oposto, uma igualdade
Contraponto, contragosto ou contra isso

Não sei se sou outro ou eu
Nada que se faz ou se tenha omitido
O certo que no fundo sou eu
Esse alguém de duplo sentido

Encontro aqui e agora
Essa nova onda, esse asterisco
Uma novidade meio sem propósito
Ou mesmo uma marca do destino

Encontro nas diferenças
Tanta igualdade e vejo logo o precipício
Um amor, um desejo, um nada
Um Tudo ou nada daquilo.

Não sei se sou outro ou eu
Nada que se faz ou se faz sentido
O certo que no fundo sou eu
O certo está perdido

Não vejo ninguém nas multidões
Não vejo o que a cegueira me rouba
Há apenas turbilhões
Onde a solidão repousa

Vi um morto na rua
Vi vivo no cemitério
Existem palavras cruas
Neste caldeirão de universos

Não há sentido a seguir
Cuspo nesses sentidos
Pra tudo o que não possa ouvir
Cubro os meus ouvidos


Fiz esse poema há uns 10 anos atrás. Hoje ao ver um homem morto em um acidente, reli esse poema num outro sentido muito diferente do qual o escrevi. Não pude me furtar a vontade de fazer algumas mudanças e acréscimos.
Hoje vi morte e não é ela que me faz tremer por dentro, é apenas a violência que a cerca, que me dá arrepios...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Um novo instante...

Essa é uma matéria que fiz para um trabalho de faculdade. Mas gostei muito do resultado e publico aqui.

As mulheres que elas serão

As adolescentes e seus modelos de vida

Minéia Gomes

Rhanna estava sentada daquele jeito que moça não deve sentar. Com a saia no meio das pernas. Pés na mesa. Olhava meio que para o nada enquanto tentava recordar memórias que foram narradas pela mãe. Estávamos na sala de reunião do Projeto Teia da Vida, onde elas trabalham como estagiárias pelo IEL. “ Ela se casou pra poder estudar”, foram suas palavras ao relembrar as escolhas que mãe fizera. Após 3 ou 4 propostas de casamento e a declaração que não queria se casar, Rhanna só tinha 10 anos. Hoje uma das poucas certezas que tem é que não quer ter filhos. E esse não querer parece vir meio que da visão da mãe que fez 3 faculdades todas carregando um filho na barriga, somado a questão da vaidade. Ela consegue se ver com rugas, mas não admite as estrias vindas da gravidez.
Ter 15 anos pra uma menina talvez seja estar muito distante da vida adulta. Tudo parece meio que um sonho, um desejo. Eu aos 15 anos tinha planos pro futuro como Rhanna, Mysllene, Jordânia e Laís. A chegada dos 30 estava tão distante dele quanto o sol da terra. Para algumas coisas eu tinha muita certeza, aquela certeza que permeia a adolescência e quase sempre é furada. Já outras, nem tanto. Mas em minha cabeça tudo poderia ser mudado a qualquer momento. A vida era muito mutável sob meu ponto de vista.

“Minha mãe sempre cuidou de mim e de minha irmã sozinha...ela sempre teve um projeto traçado assim, ela queria se formar e correu atrás disso...” Mysllene

Mysllene tem uma visão. “ Quero por silicone”, diz em meio a uma boa mordida no salgadinho e um gole de suco em caixinha. Aos 30 anos ela será uma coroa. Tudo que tem 10 anos a mais que ela, é velho. Ela briga com o espelho todo dia, porque ele insiste em dizer a ela que está gorda. Ela quer ser uma coroa enxuta. Sua mãe a criou sozinha, conta ela com aquele olhar de admiração. “ Ela começou como faxineira e hoje é gerente comercial. Ela está no mesmo trabalho há muito tempo e hoje pôde fazer faculdade de administração “. Mysllene, por sua vez, será engenheira e arquiteta. Talvez o casamento esteja incluso nesse pacote. Agora filhos, “prefiro ter um menino, menina é muito enjoada”.
Há quem queira formar um time de futebol... Pode ser de salão, society ou de campo. Um time de futebol! Esse é o desejo de Laís, ter muitos filhos. Nossas avós foram criadas para acreditar que isso seria uma condição de sucesso para o casamento. Ela fala isso enquanto gesticula apressadamente. Suas mãos acabam mostrando exatamente a ansiedade de viver tão típica dos jovens. Ela deveria formar um time de Vôlei ou Handebol. No entanto, quer conciliar maternidade com a formatura e um casamento. Depois conserta um pouco a fala e diminui pra 3. Seus olhos brilham de entusiasmo, um entusiasmo que talvez se perca entre as primeiras fraldas de cocô, noites sem dormir e o trabalho de faculdade pra entregar no outro dia cedo.
Jordânia quer ser famosa. Ela quer ter a vida arrumadinha, seu apartamento e sua independência. “Eu não quero sustentar ninguém. Eu quero ser sustentada. Mas, no entanto, eu não quero tá assim debaixo da asa de ninguém. Tipo, a hora que eu quiser fazer o que quiser e quando quiser eu quero ter condições pra isso, é lógico que quero usufruir do bem bom.” No final das contas Jordânia não quer ser só mais uma. Ser famosa significa que as pessoas querem saber de você, e é isso que ela quer. O modelo certinho de mulher que vem da mãe, é apenas o modelo da virtude, não o modelo da realidade. Essa máscara da realidade ela pega emprestado da Britney Spears. Ela quer ser uma star.
As mulheres da minha época achavam que Leila Diniz ou Madona eram modelos de mulheres. Elas eram livres, independentes, donas de seus corpos e de suas palavras. Para essas meninas, o grande modelo a ser seguido é a mãe. Tudo o que eu não queria ser era igual a minha mãe. Camila Pitanga e Angelina Jolie aparecem como modelos de beleza. Será que elas conhecem a angústia de Madame Jolie ou as surras de Madona? As mães, esses ídolos obscuros e em sua maioria com estórias não muito felizes para o padrão da classe média, tem na ausência do pai ou num quadro pintado de um homem fraco, as imagens masculinas que não querem reproduzir. Essas meninas serão mulheres exigentes quanto ao outro. E tal exigência poderá ser saciada por um simples mortal?
Quando pergunto sobre esses desejos e sonhos, dá pra notar que nos discursos de cada uma que a independência é sempre equivalente a organização financeira. Ter dinheiro é a preocupação principal dessas meninas na vida adulta. As ambições são variáveis e a maioria delas acredita realmente que estudando tudo será mais fácil. Todas as fichas estão apostadas no vestibular e no futuro de uma carreira. A necessidade de se destacar, de provar algo a si mesma já cria nelas fantasmas que vem perseguindo a mulher moderna. Se para nós é preciso provar ser boa mãe, esposa e profissional. Talvez para elas o profissional seja o prioritário e também o único que poderá realmente angustiá-las.

“ Eu perdi o desejo de ser mãe... a mulher perdeu um pouco do feminino” . Rhanna

Quem são elas?

Às vezes práticas e atitudes parecem apenas assumir outras roupagens. As escolhas feitas ao longo do tempo por essas jovens mulheres e que vagarosamente vão inserindo-se nessa caleidoscópica civilização, mostram o quanto às escolhas de diversas gerações moldaram o presente de cada uma delas; de todas nós. Os núcleos familiares, os mercados de trabalho, a relação com o outro. Tudo de certa forma sofre a influência das escolhas do ser humano. Mas para essas mulheres, o que importa é não depender de um homem financeiramente. Elas têm poucos modelos de esposas ou amigas. A amante, é a mulher que sobrepõem o homem. “Daquelas que arrasam um homem só com olhar”, ou “ Aqueles que ficam ali no chão, fazendo tudo por você”.

“ Agora Pensando bem assim, até eu queria responder essa pergunta, porque eu não sei quem sou eu...” Mysllene

Uma manteiga derretida é como Mysllene se enxerga. Não chorar na frente dos outros pode indicar o medo de ser avaliada ou simplesmente um sentimento que está a todo o momento à flor da pele. No fundo talvez não há muito o que falar sobre si, porque ainda está em construção. “Eu sou muito de momento!” Ela sabe que se correr atrás do que quer ela vai conseguir, mas detesta pensar no futuro. O Futuro está distante, assim como a avaliação das pessoas que a cercam.

“Vou estar responsável...” Laís

Fazendo um sopão das mulheres que admira , Laís teria o corpo de Angelina Jolie, a garra , determinação e o jeito de criar os filhos da mãe, a força da madrinha que enfrentou um acidente grave e um câncer. Vivendo, Laís descobriu que ser responsável é ter consciência e pelo jeito ela não se acha responsável ainda. A mãe diz que ela é uma meninona, e ela concorda, afinal uma menina de 16 anos não pode ficar brincando com o sobrinho pequeno. Não ser influenciável, é o desejo dela. Mas ainda procura algumas mudanças pra si de coisas que ainda não sabe muito bem o que sejam.

“ De acordo com que a música toca, eu vou junto...” Jordânia

“Se todo mundo faz bagunça eu faço também .” Quietinha e caladinha essa é uma fala que parece não caber na boca de Jordânia. Quando fala de si , tudo parece distante e indefinido. Afinal ela acabou de fazer 15 anos, e essa relação consigo mesma ainda é pouco madura. A única coisa concreta para ela no momento é ser independente financeiramente. A mulher do futuro, ainda é uma semente adormecida. Nem a Profissional está assim tão concreta em sua mente.

“Todo mundo é falso quando é necessário” Rhanna

Ela acabou de completar 18 anos. A visão de Rhanna sobre si vem da observação de terceiros. Extrovertida, nervosinha, mole como uma gelatina e firme como uma bananeira. Muitas contradições que criam conflitos internos às vezes ricos, outras angustiantes. Mesmo com todas as dificuldades ela aprendeu com a mãe que tudo será superável com o esforço e franqueza. Sua vontade mesmo era poder dar um “Dane-se!” quando as coisas não forem do jeito que ela acredita ser o certo. Estar livre de convenções e regras.

Rhanna já não está com os pés na mesa. Agora é Laís que se espicha preguiçosamente na cadeira, mostrando os dedões separados. Olho essas meninas nos olhos e vejo as diferentes mulheres que serão no futuro. Cada uma está construindo sua história, fazendo suas escolhas. A Civilização precisava castrar os instintos para sobreviver e a mulher foi o principal alvo. Essas meninas estão vivendo um mundo ainda em estado de modificação. Elas farão história, assim como suas mães. A filha que um dia terei poderá ter uma delas como exemplo. E com certeza, ela vai sentar-se do jeito que moça não deve sentar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Bem às vezes me parece impossível conseguir um espaço pra que as pessoas possam ler o que escrevo. Essa deve ser a 4ª tentativa, quem sabe eu a leve mais a sério... Para iniciar este espaço, posto um poema feito em 92, que gosto muito.

O tempo passa

O tempo passa não passa

Vi isto uma vez num poema

Já nem me lembro o tema, o compasso, a rima

Mas tenho que concordar que o tempo passa

Não passa?

E olhando para as folhas caídas

Tento me lembrar de quando estavam, lá em cima

No último galho

E agora no chão

Certo é o destino de quem o busca

Sabendo aonde se começa

Inevitável é o chão que se termina

Os entremeios a isso

De nada valem.

Apenas o vento é o soberano rei

A ordenar as flutuações constantes do mundo.

Vemos gerações que se sucedem

Sobre a terra

E nada há de existir

Mais complexo que a contração e retração do Universo

A geração e a morte de tudo que um dia existe

E perde-se no eterno das vozes interiores.