
A pintura quatrocentista regida por conceitos de simetria de funcionalidade era conhecida pela imagem calculada, arquitetada,
conceitualizada e construída. Primando pela objetividade, a imagem renascentista fugia da subjetividade humana e respondia bem a investigação científica e ao uso de “máquinas”.
A era digital, marca o retorno dessa imagem objetiva, que tende ao desejo renascentista da imagem puramente conceitual, já que os algorítimos de visualização permitem a construção de universos abstratos puramente matemáticos. No entanto a imagem sintética ainda sofre com a

utopia do total controle do visível, obsessão dos renascentistas. O realismo praticado por essa imagem é fruto da lógica matemática e não da percepção do mundo real. Ainda mais calcula das, coerentes e formalizadas que as imagens renascentistas, as imagens digitais ganham um certo realismo que de alguma forma dá continuidade ao princípio do registro fotográfico. De certa forma, os algoritimos de visualização permitem restituir sob forma visível e perceptível as abstrações matemáticas, ao mesmo tempo que descrevem numericamente as imagens.
Segundo Baudrillard (1992) é a imagem que tem se tornado cada vez mais virtual e distante do real. Não se opondo a ele, mas aos ideais de verdade que existem. A imagem hoje é nada mais que uma forma de controle do tempo, pois o “real”, sempre vai sofrer alterações a partir de uma nova leitura, seja ela feita através de uma nova tecnologia ou de um novo pensamento. Nesse caso nem a realidade factual estaria preservada por causa da maleabilidade do processo de digitalização.
Segundo Arlindo Machado (2001;p.15) “ o artista da era das máquinas é, como o homem de ciência, um inventor de formas e procedimentos; ele recoloca, permanentemente em causa as formas fixas, as finalidades programadas , a utilização rotineira, para que o padrão esteja sempre em questionamento e as finalidades sob suspeita.” Acredita-se que a moderna produção tecnicamente mediada, pode interferir diretamente nas formas de percepção da imagem, sendo ela cada vez mais ágil e mais facilitada em sua execução. No entanto o feitio da obra artística, ou melhor do duplo da imagem, ainda continua subordinado aos vários aspectos da percepção que o ser humano – alvo da obra –deve ter. A máquina realiza o trabalho, mas cabe ao artista o trabalho intelectual e a atividade imaginativa e ao público a identificação da obra.
O aspecto abordado aqui refere-se a todo esse entendimento de como o Moderno é subvertido pelo pós-moderno e como este age no processo de criação e percepção do mundo. Para Touraine (1999; 17) “ A modernidade não é mais pura mudança, sucessão de acontecimentos, ela é difusão dos produtos da atividade racional, científica, tecnológica e administrativa.”
Eleanor Hertney (2002; 6) completa afirmando que “o pós modernismo ... é inconcebível sem o modernismo. Pode ser entendido com

o reação aos ideais do moderno...” . Podendo ser apontado como ícone da pós-modernidade, a imagem sintética, rege-se justamente pela simulação do mundo e não sua apresentação racional ou científica. Sua formação, possível pela revolução tecnológica, subverte a ordem da realidade e do palpável, como afirma Baudrillard (1991; 8) “a simulação de um território, de um ser referencial, de uma substância. É a geração pelos modelos de um real sem origem nem realidade : Hiper-real.”
BAUDRILLARD, Jean. A Transparência do mal: ensaio sobre os fenômenos extremos. Jean Baudrillard; tradução: Estela dos Santos Abreu. 2ª edição, Papirus, Campinas, SP, 1992.
------------------------------. Simulacros e Simulação. Jean Baudrillard; Trad. Maria João da Costa Pereira. Relógio D’água, Lisboa, PO
ARNHEIM, Rudolf . Arte e Percepção Visual: Uma psicologia da Visão criadora. Trad. Ivonne Terezinha de Faria. Livraria Pioneira editora, SP, 1996
MACHADO, Arlindo. Máquina e Imaginário: O desafio das poéticas tecnológicas. 3º Ed. Editora da Universidade de São Paulo, SP, 2001.
HEARTNEY, ELEANOR . Pós-Modernismo. Trad. Ana Luiza Dantas Borges. Cosac & Naif, SP, 2002
TOURAINE, Alain . Crítica da Modernidade. 6ª Edição. Vozes, Petrópolis,RJ.
imagens dos artistas: Phyil dune, Jonathan Wong e Uzeyr
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