
Reflexões sobre Cultura
The Show Must Go on
Estamos rodeados pelo espetáculo. Como se não bastassem as grandes produções de TV e cinema, a vida cotidiana tornou-se um show vendável. “ O show da vida”, ganha vigor e cores com tratamento digital nas mesas de corte, nas cotas dos patrocinadores, nas páginas de jornais que religiosamente nos sabatinam com “ Fato e Fotos” bastando “dar uma espiadinha”. Vivemos a semiótica do neomundo onde o consumo é extremo e o uso descartável. As culturas a bem da verdade quase não são mais apreciadas. Na não tão nova lógica da antropofagia moderna, ela torna-se prato de glutão. Comemos, mas não digerimos. Não há tempo para reflexão, o que é engolido é regurgitado. No final das contas não há mesmo é tempo.
Segundo Douglas Kellner (2001:9), “ as narrativas e as imagens veiculadas pela mídia fornecem os símbolos, os mitos e os recursos que ajudam a constituir sua cultura comum para a maioria dos indivíduos em muitas regiões do mundo de hoje”. O Obi combinado com o jeans surrado e o sapato Prada podem cair bem. Comemos Kibe no fast food e ouvimos gaitas de folie no show de gothic metal de uma banda alemã.
Criamos símbolos e mitos que duram semanas se alimentados pela mídia. Quando naturalmente não seriam nada. Em busca de um consumidor que tem sua marca, a industria cultural se apropria de tudo e incentiva o individualismo. Qualquer coisa pode estar no auge. Trata-se no fundo de uma pedagogia cultural que vem nos ensinando como melhor consumir este modelo que se mostra ilusoriamente democrático.
Teorias e mais teorias são criadas para tentar socorrer os débeis náufragos desse extenso mar que é o “caldo da cultura”. No entanto a teoria pós-estruturalista de Derrida, Deleuze, Lyotend e outros, deu-nos a luz para o fato de que qualquer teoria trata-se apenas de um novo constructo que se em alguns casos responde a uns, cala a outros, a semelhança de bichos que perdem-se se retirados de seu território marcado.
“ A cultura é como a vida . Sua tendência é crescer, desenvolver-se proliferar “ (Lúcia Santaella, 2003:29). A cultura da mídia tende a valorizar o indivíduo que particularmente não vejo como assassino da cultura, mas sim as discussões sociais que ele recusa a participar. Ás vezes temos o pressentimento de um mundo totalmente controlado, a realidade da matrix de Gibbson. As opções são muitas mas não há interação. É como estar numa festa solitária com uma mesa farta de possibilidades , mas não há com quem comentar. Onde estão as novidades? As misturas talvez não sejam possíveis. “ A infelicidade dos consumidores deriva do excesso e não da falta de escolha” ( Bauman, 2001:75)
Narciso é o novo guru do século. A sociedade vive a era dos espelhos e a cultura é dirigida pelos pavões. Existe produção cultural de qualidade? Evidentemente, para quem olha além do espelho. Pra quem visita “ a outra margem do rio “ pode-se revelar o “underground” ou o “underworld”, ou mesmo o periférico.
Do outro lado do Stige, a marginalia sobrevive até que o bicho capital o cace ou o convide a jantar. O homem observa o mundo de acordo com uma ótica particular. A cultura é a lente com a qual ele efetua esta observação. Lentes diferentes produzem diferenciadas imagens. Este individuo participa de forma identificada em sua cultura, mas ele entende sua própria identidade? Ao deixar de olhar pra si e ver o,outro, ele será capaz de reconhecer a totalidade da expressão de seu par.
O espetáculo tem que continuar. Hoje o corpo está plugado, Masamune Shirow que o diga! Logo o espetáculo estará em nós. Não algo a parte, mas dentro de nossas mentes. Um espetáculo individual. E onde estará a cultura? Será um mix de um tanto de coisas que no final virão um mingau que não se identifica de onde vem? Ainda não fomos homogeneizados, mas não queremos virar o rosto para olhar os lados.
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