
Se observarmos diversas crianças em tempos ou locais diferentes, veremos que determinadas brincadeiras são iguais. A rua, antigo espaço de convivência, era o palco das diversas formas de comunicação que o homem possue. Interessante como apesar das distâncias ou das barreiras lingüísticas, essas mesmas crianças fazem e participam desse processo de expansão do imaginário infantil, seja consciente ou não. Com o passar dos anos, as grandes cidades construídas para as máquinas, matam esses espaços de convivência, restando a criança, apenas a frigidez de salas de aulas abarrotadas, de professores que apenas preocupam-se com letras bem escritas e palavras bem faladas e esquecem-se do aprendizado obtido na rua, onde todas as informações são apreendidas e recicladas, não importando a língua, o credo ou a cultura a que se pertença.
A boa e velha brincadeira do telefone de lata, permanece em nosso imaginário, como símbolo da possibilidade da comunicação infantil( Ainda Ontem vi um na tok Stok para ser vendido, e custava R$ 35,00 reais). Seja de copo plástico e barbante, ou com fio de cobre e lata “ para ouvir melhor e mais longe...”, um sem número de crianças viabilizavam suas conversas a distância com o tosco mecanismo. Tinha-se a ilusão da tecnologia, mas um dos itens fundamentais a comunicação estava lá: A fala. Recoberta pela imaginação, pela nítida sensação de que não era necessário estar do lado do colega para brincar, a comunicação rompia a fronteira do imediato visual, era possível comunicar e brincar a distância.
Quando pensamos em redes de comunicação, acabamos nos deparando com esses pequenos seres, que através da brincadeira, do jogo, se relacionam de uma forma tão eficiente que suas informações ultrapassam os anos, as fronteiras ou mesmo o velho muro que separa os vizinhos, e logo passam a fazer parte do imaginário coletivo. A comunicação infantil consegue uma eficácia, tão própria, e tão precisa, que além de socializar o conhecimento ela o perpetua pelas gerações.
As crianças são articuladores natos. Se fosse a elas dada oportunidade de apropriar-se das novas tecnologias de comunicação, elas apenas gerenciariam toda a gama de informação que possuem. Basta observar o dia a dia; são elas que dominam a linguagem da internet. O novo, passa a ser o grande impulsionador dessa busca incansável de informação. Cercada por um mundo elétrico e eletrônico, sua mente pulsa conforme o ritmo alucinante dos BIT´S. É preciso contato com outros seres, todas as experiências humanas, não poderão ser passadas apenas pelas teclas do computador. A comunicação é exigente, ela pede contato, pois se alimenta do que vê, ouve , fala e sente.
A formação de uma rede infantil de comunicação, parte do princípio simples, que comunicar é uma grande brincadeira. A comunicação deve ser prazerosa tanto a quem recebe, quanto a quem emite. A criança, não pode ser deixada de fora desse processo de mundialização. Afinal, elas não estão presas ainda as idiossincrasias do mundo adulto, estando muito mais abertas a descobrir no “outro” uma gama de informações que passa desapercebida ao adulto. É preciso que ela perceba que às vezes suas dúvidas são as mesmas que uma criança japonesa, ou mesmo que a discriminação que uma criança negra sofre nos E.U.A. não difere muito da que recebe a criança africana ou brasileira. A ótica infantil é especial, portanto deve ser respeitada e fomentada. Olhar e ouvir como uma criança é estar aberto a esse processo de criação do cidadão do mundo. Alimentar hoje uma rede infantil de comunicação, é viabilizar para o futuro um processo comunicacional democrático, que terá bases para se auto-sustentar. È preciso lutar contra a monocultura. A diversidade é fundamental para o engrandecimento dos povos. Chega um determinado momento que é preciso buscar revitalizar a cultura, senão as esta estará condenada a implosão. Ninguém melhor que as crianças para gerenciar estas mudanças.
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